domingo, 23 de novembro de 2014

Les Paul Dunamiz Pronta

Pessoal, a minha Dunamiz DZ59 está pronta.

As fotos e a história estão na página. Segue o link:

http://euamoguitarra.blogspot.com.br/p/dunamiz-les-paul.html

sábado, 1 de novembro de 2014

Humbuckers Fullertonepickups - A Saga (Atualizado!!!)

Coisas nonsense existem em todo canto: no maior produtor de carne bovina do mundo o povo é aconselhado a comer ovo pois a carne ficará mais cara (?)... o povo que vai à rua pedir mudança no governo, um ano depois elege o mesmo governo...

Mas eu sou um cara que não gosta de coisas nonsense, logo, encomendar uma guitarra a um luthier, feita à mão, do jeito que eram feitas 20, 30 anos atrás, com toda a dedicação para ser um instrumento que te acompanhará durante toda a vida, e depois de tudo isso chumbar um kit de captadores de linha, fabricados por robôs que funcionam 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem nenhum sentimento, produzindo de forma ininterrupta, não fazia sentido.

Ainda bem que o Felipe e o Fabricio da Dunamiz têm uma parceria bacana com o Edu, artesão dos captadores Fullertone, e como relatado na página sobre a minha nova Les Paul, será ele o cara incumbido de captar o som de minha guitarra.

O Edu fabrica seus captadores como era feito antigamente, conforme me disse em uma conversa:
"Eu faço quase tudo no pickup humbucker: a base, os pinos. A cover eu compro, daí tiro o cromo acerto a espessura na retifica  e dou banho de níquel. As bobinas plásticas compro prontas e depois faço todo o processo de bobinamento, montagem e teste. Não compro na Stewmac, faço como era feito antigamente: compro chapa, furo dobro, ajusto, dou banho de níquel, faço o logo estampado (se houver) e etc... bem artesanal mesmo. Meu trabalho mostra que é possivel fazer como antigamente e com um custo legal."
Na parte do processo que não é manual, o Edu utiliza máquinas que ele mesmo construiu, como a máquina utilizada para enrolar a bobina, como ele mesmo disse:
"Eram 4 bobinas eu alternei fiz duas manualmente e duas de modo automatizado. Esse automatizado foi inspirado na maquina da Gibson Slug 101. No caso da minha fiz com motor de limpador de parabrisa igual à da Gibson."
Uma coisa bacana do processo é que assim como no caso de uma guitarra custom shop, num kit de captadores como esse, você escolhe cada um dos detalhes:

- Com ou sem nickel cover;
- Cor das bobinas de plástico;
- Tipo de imã;
- Tipo de fiação;
- Resistência/saída.
- Uso de parafina;
- Envelhecimento.

Isso mesmo, o Edu faz uma coisa que deixa qualquer maníaco por captadores vintage alcançar o 7º céu em 2 tempos. Ele domina um processo de envelhecimento utilizando nitrogênio líquido, capaz de deixar o captador com as mesmas características de um captador com 50 anos de idade, sem que para isso você precise de leiloar seu rim para o mercado negro.

Nos meus captadores chegamos às seguintes especificações:

- Bobinas pretas;
- Cover e níquel;
- Imãs alnico II;
- Parafina no CJ (parafinar tudo iria fechar demais o som, então parafina-se somente o CJ, pois é um ponto vulnerável a microfonia);

- Captador da ponte:
 -- fios plain enamel (padrão Gibson), para terem um som menos estridente na ponte;
 -- resistência de 8,6k;

- Captador do braço:
  -- fio plain enamel na bobina interna;
  -- fio formvar (mais grosso, padrão Fender) na bobina próxima ao braço, para dar um timbre mais agudo e equilibrar a tonalidade do captador do braço em relação ao captador da ponte;
  -- resistência de 7,6k;

A única coisa que sobrou agora é a minha ansiedade... Abaixo, seguem algumas fotos (gentilmente cedidas pelo Edu) do processo de construção dos captadores da minha Les Paul.


Chapa da base do captador


Chapa cortada e furada.

Detalhe da chapa de furada e ajustada


Slug sendo usinado no torno
Chapas após banho de níquel, ao lado dos slugs

Bobina de plain ename (fios mais finos padrão Gibson)

Bobina de formvar (fio mais grosso padrão Fender)
Bobinas enroladas já com as fitas protetoras
Fitas sendo colocadas no baseplate
Humbucker montado sem Nickel Cover
Fios já organizados
Nickel cover colocado
Finalizado e pronto para o combate!
Para arrematar, o vídeo de uma Dunamiz com os captadores Fullertone (infelizmente não consegui compartilhar o vídeo de uma Les Paul, mas colocarei o link abaixo):





segunda-feira, 26 de maio de 2014

Por que uma guitarra boa é tão cara? - Parte V

O blog ficou abandonado por quase ou mais de 1 mês, e eu enrolando para finalizar a série "Por que uma guitarra boa é tão cara?".

Ocorre que entrei de férias e tinha planejado diversas coisas para o período de férias, inclusive, escrever, mas como nas férias a preguiça impera, o blog ficou de lado. Mas cá tô eu novamente.

Hoje, vamos falar da última parte sobre o que faz uma guitarra ser tão cara, e para maioria dos leigos, a mais óbvia: os componentes eletrônicos e o hardware.

Depois de todo o esmero na seleção das madeiras, construção e acabamento você não vai colocar tarraxas e captadores vagabundos, não é mesmo? Seria como você ter uma Ferrari com motor de Fusca. Fazendo a mesma analogia, um Fusca com motor de Ferrari também não daria muito certo, não é mesmo? Provável que o fusquete nem mesmo aguente a potência do motor de uma Ferrari.

Hardware (ferragens)


Eu lembro de quando um conhecido meu comprou a então recém lançada e badaladíssima 0 (leia o número). A guitarra era vendida por um fabricante como sendo o modelo de um guitarrista conhecido do Brasil, que usava uma outra guitarra, que não era nem ao menos parecida com a 0.

Enfim. Era uma guitarra com um custo baixo pelo que oferecia, e com o marketing da época, foi muito vendida para garotos que naquela época estavam, como eu, começando a tocar o instrumento, e achávamos que a guitarra era o mais importante. *Obs: a guitarra era feia, de um extremo mau gosto, e existia um outro modelo da mesma fabricante, chamada Chrome, que era muito superior em todos os aspectos e era mais barata.

A tendência de um novato em qualquer área fazer besteira é muito maior que a de alguém experiente. Por isso mesmo, quando foi trocar as cordas da guitarra pela primeira vez, apertou as travas da pestana da floyd rose (licenceada, como era uma guitarra barata, não era A Floyd Rose, nem uma de marca grande como Gotoh ou Schaller) muito mais do que deveria.

Não foi o problema ter apertado demais, o problema foi quando preciso de soltar novamente as cordas: PIMBA. A cabeça o parafuso Allen roletou, espanou. Não foi possível tirar o parafuso para trocar a corda. A guitarra que tinha sido comprada em uma loja havia menos de uma semana, ainda estava na garantia e foi trocada.

Ocorre que fabricantes de instrumentos baratos utilizam ferragens feitas com ligas metálicas baratas. Assim, os parafusos e as próprias peças costumam ter um desgaste maior, e muitas vezes anormal, como no caso relatado. Algumas peças metálicas acabam enferrujando com mais facilidade.

Apenas uma explicação técnica sobre essa última parte: dois metais distintos quando estão em contato acabam provocando a oxidação um do outro. Ou seja, as cordas fazem a ponte enferrujar e a ponte faz as cordas enferrujarem. Por esse mesmo motivo deve-se evitar tocar com cordas enferrujadas, pois estas desgastam os trastes e ponte com maior velocidade.

Em guitarras mais caras, os fabricantes utilizam ligas metálicas que possuem maior resistência física, além de serem quimicamente adequadas para que durem mais tempo sem oxidar, e evitem a oxidação das cordas.

No caso de pontes fixas, há menos problemas nas pontes de qualidade mais baixa, mas nas flutuantes os problemas crescem a níveis absurdos. Não é apenas uma questão de durabilidade do material, mas também o quanto aquele conjunto vai prejudicar o som do instrumento. E isso é bastante influenciado pela forma como a ponte é construída. Existe um post bem legal AQUI falando sobre isso. Nesse post não cabe entrar em mais detalhes senão ficará longo demais. Por isso recomendo que leiam o link.

Outra parte crucial do hardware são as tarraxas. Imagine o seguinte: se as cordas de uma guitarra afinada geram em média 47kgf de tensão no braço, dividindo essa tensão igualmente entre todas as cordas teríamos 7,84 kgf de tensão em cada corda, e consequentemente em cada tarraxa. Ops! Aí vem um detalhe importante: você lembra aquela aula de física que você dormiu ou ficou conversando com seu colega do lado na qual falava sobre a lei da alavanca? Não né, afinal, se você dormiu como lembrará? Então vamos explicar de forma bem imbecil:

"Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio que eu movo o mundo" (Arquimedes)

Imagine uma gangorra que tem duas crianças com o mesmo peso em cada um dos lados. Se você for numa das pontas da gangorra e tentar levantar ou abaixar será moleza, não é mesmo? Afinal, teremos um contra-peso que vai fazer aquilo ser banal. Agora, imagine que você tenta fazer a mesma coisa empurrando ou abaixando um dos lados porém fazendo a pressão sobre uma área próxima ao ponto de apoio da gangorra a força necessária será muito superior. Muito superior.

Isso se deve ao fato de que a força aplicada na ponta da gangorra será multiplicada pela extensão do braço da gangorra até o ponto de apoio. Por isso mesmo, quando se aplica essa força mais próxima ao centro, o peso se torna muito maior, já que do outro lado haverá uma força maior sendo exercida, e do seu lado a força será minimizada. Entendeu? Então olhe a figura abaixo que você vai entender:


Pelo mesmo princípio físico, as tarraxas e a ponte vão aguentar uma força muito maior, como pode ser visto na imagem abaixo:


É por esse mesmo motivo que para fazer uma pestana ou um trinado na primeira casa é muito mais duro que na 12ª por exemplo. (se quiser ler mais http://pt.wikipedia.org/wiki/Alavanca)

Voltando então ao assunto, a força que as cordas exercem em cada uma das cordas é muito maior que elas exercem em conjunto no braço, ou seja, tarraxas de boa qualidade vão suportar a tensão das cordas além dos bends e alavancadas do guitarrista e desafinarão muito menos.

Existem ainda outros detalhes de peças de hardware que influem no preço de uma guitarra, como por exemplo o uso de um Straplock (um esquema que prende a correia na guitarra de forma que dificulta que essa correia se desprenda da guitarra e deixe ela cair), roller nuts (pestanas que permitem as cordas deslizarem quase sem atrito, evitando que as cordas desafinem).

Eletrônica

Antes de entrar na pedaleira ou no amplificador, o som da sua guitarra será "lido" pelos captadores, passará pelos potenciômetros, capacitores, e sairá pelo jack da sua guitarra. Então vamos pela ordem do circuito:

1 - Captadores baratos são feitos sem controle de qualidade, e por isso mesmo não se pode "prever" as características sonoras desses captadores de forma muito precisa. Pode ser que você compre uma guitarra barata que possui captadores com um som interessante, mas no geral, a tendência é que não sejam bons. Os captadores mais baratos são normalmente do tipo cerâmico, que são captadores que possuem um imã, daquelas barrinhas cor de grafite, debaixo da capinha. Ocorre que a captação de guitarras mais baratas acaba gerando mais ruído que captações mais caras, além de microfonias e até mesmo captação de sinal de rádio (sim, acontece).

Captadores mais caros são geralmente do tipo alnico (alumínio - níquel - cobalto). São captadores que possuem magnetos separados e uma bobina de cobre em volta desses magnetos. Nesses captadores diversos fatores são variáveis: bitola do fio da bobina, tipo de magneto e nível de magnetização, quantidade de voltas da bobina, utilização de parafina e etc. Os captadores mais caros dos mais caros são normalmente feitos à mão, e a bobina de cobre é enrolada cuidadosamente. Além disso, os magnetos são armazenados em separado para que não sejam desmagnetizados e nem super magnetizados.

As Fender Custom Shop, que são AQUELAS guitarras da Fender possuem captadores que são feitos pelas mesmas pessoas há 40 anos, isso tudo com a finalidade de manter o mesmo timbre que aqueles captadores sempre tiveram.

2 - Fios são sempre fios, e com toda a certeza o componente mais barato na eletrônica do instrumento, mas esses precisam de ser soldados cuidadosamente para que não haja perda de sinal, solda fria, ruídos indesejáveis e etc. E existem sim fios de maior qualidade que outros. Além disso, ruídos gerados por indutância podem ser evitados pelo simples posicionamento adequado dos fios no circuito.

Alguns fabricantes já estão adotando circuitos impressos ao invés de fios de cobre para fabricação de circuitos. Embora haja muita gente que torça o nariz dizendo que isso visa apenas a redução dos custos para os fabricantes, tecnicamente não se pode afirmar que os circuitos impressos sejam prejudiciais para o instrumento, já que erros de soldagem deixam de existir. Além disso, algumas vantagens foram criadas com a adoção de circuitos impressos. Já é possível devido a esses circuitos efetuar a troca de captadores de uma guitarra sem a necessidade de utilizar solda, já que existem captadores que já vem com os conectores adequados para serem simplesmente plugados nesses circuitos.

3 - Potenciômetros e chaves - os potenciômetros e chaves de boa qualidade duram mais. Com o tempo um potenciômetro ou uma chave podem oxidar internamente, e por serem peças mecânicas, existem desgastes que podem ocorrer com a utilização.

Chaves e potenciômetros mais baratos tendem a se desgastar mais rápidamente, além disso podem apresentar certas inconsistências na saída, ou seja, se um potenciômetro logarítmico de boa qualidade é vendido como sendo de 500k, a saída desse potenciômetro possuirá uma variação mínima. Já um potenciômetro de baixa qualidade poderá possuir valores de saída completamente distintos. Além disso, um potenciômetro vendido como logarítmico (ideal para volume) pode ser do tipo linear, que já não é ideal para esse propósito.

Existem também os problemas mecânicos, como por exemplo, uma chave pode ser mais dura em uma determinada região, ou produzir algum ruído não desejado durante a utilização.

Agora, junte todas as possibilidades acima num circuito mal feito. Bem, numa guitarra cara existe controle de qualidade, e dificilmente você terá algum problema com o circuito, que além de ser construído como muito mais cuidado e utilizando componentes de primeira, passará por testes para avaliar o funcionamento adequado desse circuito.

4 - Blindagem magnética - a última parte a se falar sobre eletrônica é referente à blindagem magnética. A blindagem é uma técnica na qual se utiliza uma tinta condutiva ou algum material metálico para blindar as cavidades eletrônicas da guitarra contra interferências eletromagnéticas externas. Isso evita que motores, transformadores, transmissores de rádio, e outros equipamentos gerem ruído no instrumento. A idéia é criar uma "gaiola de faraday" em volta do circuito e assim nenhuma intereferência eletromagnética entra e nem sai da cavidade.

Para fechar a série

Depois de ler tudo o que eu escrevi você pode vir a pensar: "minha guitarra é um lixo", ou, "nunca poderei ter uma boa guitarra". Esqueça seu pensamento negativo e vamos pensar no seguinte: quando comecei a tocar as marcas nacionais que existiam estavam engatinhando, e as antigas não sabiam (e até hoje não sabem) fazer guitarras. Para se ter uma guitarra de qualidade era necessário comprar em uma loja que revendia de algum importador oficial, cobrando os olhos da cara.

Hoje as coisas estão muito, mas muito mais fáceis. Com a Internet ficou mais fácil encontrar instrumentos usados, ou importadores que vendam mais barato. Se isso ainda não for uma opção válida para você, hoje existem diversos luthiers que produzem bons instrumentos no Brasil e com um preço bastante justo. Existem também fabricantes nacionais de peças como captadores.

Eu criei uma página aqui no blog com alguns fabricantes nacionais de equipamentos para facilitar a sua vida. Ou seja, não precisa de cortar os pulsos por você não poder comprar uma Fender Custom shop. Você pode encontrar um luthier que vai fazer uma guitarra excelente por um preço equivalente ao de uma guitarra mediana que você encontra no mercado.

É bom salientar que antes de fechar alguma coisa com um luthier você deve procurar referências sobre o trabalho dele, e ter consciência de que a revenda para instrumentos de luthier não é fácil. Portanto, se você tem GAS, evite. Mas se você não tem, existem algumas vantagens em mandar fazer um instrumento: você poderá escolher cada peça do instrumento, podendo adequar cada detalhe à sua vontade ou ao orçamento disponível.

Espero que tenha sido útil. Até daqui a uns dias.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Por que uma guitarra boa é tão cara? - Parte IV

Parte III

Aaaaaaaaaaaaahhhh a beleza das curvas, das formas, das cores... A nuance do corpo.. A leveza... A suavidade... As formas marcadas e definidas do corpo.... de uma guitarra!!!

Enfim, vamos voltar a falar do acabamento.

Como estávamos falando antes, existem detalhes e detalhes. Coisas que podem tornar o instrumento algo único. Pode ser algo funcional ou apenas um detalhezinho, um frufru. E é falando sobre o frufru que vamos abrir o post de hoje: detalhes únicos.

Detalhes Únicos


Quando Leo Fender lançou sua primeira guitarra de corpo sólido, a Broadcaster (avó da telecaster), a Gibson, que até então só fabricava violões e guitarras semi-acústicas começou a perder mercado, e logo precisou de tomar alguma atitude para reverter a situação.

A Gibson lançou seu consagrado modelo Les Paul. Uma das características principais da Gibson Les Paul, e que a diferenciava da Fender Broadcaster era seu acabamento. Os luthiers da Gibson dominavam a técnica de construção de tampos arqueados, assim como tampos de violino, e essa técnica, que era pelos motivos expostos uma assinatura da Gibson, também foi utilizada no modelo Les Paul.

O grande lance é que esse trabalho de arquear o tampo é manual, custoso, e tem que ser muito bem feito, senão fica um lixo completo: os captadores e a ponte não vão se encaixar no corpo corretamente, pode ficar desnivelado e etc. Exatamente por esse motivo existem modelos de Les Paul "Plain Top", pois isso diminui os custos de fabricação da criança.

Outro detalhe da Les Paul nas séries acima da Studio, é o Binding (frisos), que é aquela linha branca que existe na borda do corpo e do braço da Les Paul. Nas Gibson o binding é feito com um material plástico que é colado ao corpo e ao braço. Apenas um esmero estético. Nas Epiphone, que é uma marca de propriedade da Gibson que faz instrumentos menos caros, o binding é uma pintura mesmo. Em termos de timbre e etc, isso não gera nenhuma diferença, mas imagine o trabalho que dá pra fazer o binding. IMAGINA O ESCAMBAU!!! No final do post tem uns vídeos mostrando como é feito o tampo arqueado e o binding.

O binding da Gibson inclusive tem gerado polêmica no modelo 2014. O que acontece é que o binding nos braços das Gibson possuiam uma parte que cobria as pontas dos trastes, uma coisa que inclusive as falsificações não copiavam. Em 2014 a Gibson passou a não colocar o binding encobrindo as pontas dos trastes, e assim, muitas pessoas ficaram aborrecidas, alegando que isso vai facilitar a falsificação de guitarras. Quem estiver afim de entender um pouco melhor essa parte do Binding, e algumas coisas mais, aqui segue o link de um EXCELENTE post do blog Louco Por Guitara.

Como prometido, aqui estão os vídeos que eu falei....

O vídeo abaixo mostra uma boa parte do processo de construção do corpo de uma Les Paul:


No vídeo abaixo a demonstração de como é feito o binding, e alguns detalhes do braço (de guitarras mais caras):


Como deu para perceber, dá um trabalho do cão fazer essa porra isso. Então imagine o seguinte: um luthier desses deve ganhar bem por baixo, uns U$20,00 por hora. Quantas horas ele leva para fazer isso tudo?

No post passado eu prometi um monte de coisas, inclusive que esse saíria na semana passada, mas eu acabei sendo pego pelo ritmo do feriadão e não terminei a tempo. Prometi também que a parte de componentes viria nesse mesmo post, mas ficou muito extenso, então, vou deixar as peças para o próximo que poderemos falar de mais alguns detalhes.

Abraços!!!



terça-feira, 15 de abril de 2014

Por que uma guitarra boa é tão cara? - Parte III

Parte I
Parte II

Existem diversas formas de dar um acabamento à uma guitarra, baixo ou violão. Algumas formas são bastante simples (e podem ser bonitas mesmo assim). Outras formas de acabamento podem ser funcionais, ou elevar um instrumento ao status de obra de arte devido à sua exclusividade.

O acabamento do corpo de um instrumento pode variar entre acabamentos que deixam a madeira totalmente exposta, dando um visual mais natural ao instrumento, até pinturas sólidas e trabalhos de escultura e marchetaria.

Esse assunto é bastante extenso, e talvez não consiga cobrir todos os aspectos que desejo em apenas um post, logo...

Acabamento Natural

Acabamentos naturais são mais comuns em violões, violinos, baixo elétrico e etc. Nesse tipo de acabamento, normalmente a madeira é encerada ou envernizada. Um detalhe importante no acabamento natural, é que nesse tipo de acabamento é difícil esconder imperfeições No caso da cera, o acabamento é menos brilhante e tem um feeling mais natural até mesmo que o verniz.

Esse tipo de acabamento é feito com óleos e ceras como o Birchwood Casey Tru-Oil. É um acabamento muitíssimo utilizado em baixos com braço inteiriço e acabamento natural.



Na imagem acima, o detalhe de um baixo com acabamento natural em verniz da Mayones Custom Shop. Como pode ser visto na imagem, todos os detalhes da madeira, bem como todas as junções das peças ficam expostos nesse tipo de acabamento. Apesar de ser o tipo de acabamento mais simples e barato que se pode ter (principalmente no caso da cera), não dá para esconder um material ruim ou mal trabalhado com esse tipo de acabamento.

Bursts com Transparência

Um tipo de acabamento clássico é o acabamento do tipo Burst, como o famoso e popular sunburst. Nesse tipo de acabamento, costuma-se deixar a parte central do corpo com uma coloração translúcida, e as bordas com uma cor mais escura, que pode ser sólida ou também translúcida.

Esse tipo de acabamento, por ser um intermediário entre o natural e o sólido, também expõe muitos detalhes da madeira. Nos casos em que as bordas e partes traseiras são pintadas em cores sólidas, apenas o centro fica exposto, como na imagem abaixo:

Corpo de Fender Stratocaster Sunburst - Detalhe das cavidades em tinta condutiva

Pintura Sólida

A pintura sólida é a favorita dos fabricantes de instrumentos baratos, pois é uma das mais baratas (é tão barata quanto verniz, mas não tanto quanto a cera), mas possibilita esconder defeitos das madeiras e também falhas construtivas.

Além da camada de pintura, em si, alguns fabricantes utilizam resinas para deixar a madeira mais lisa, e também para facilitar a aderência da tinta ao corpo do instrumento. Segundo alguns luthiers, esse tipo de resinagem prejudica um pouco a sonoridade do instrumento, além de impedir que a madeira "respire". Dessa forma, uma guitarra resinada sempre terá o mesmo som, pois a madeira não terá suas propriedades alteradas com o passar do tempo, já que a umidade estará aprisionada sob a pintura.

Uma pintura sólida não significa que o instrumento é ruim, é apenas uma pintura mais simples e mais barata. A Gibson, de longa data (início dos anos 80), utiliza a pintura sólida em guitarras com tampo de maple padrão, não-figurado, que não seriam muito beneficiados com um acabamento translúcido ou natural. As Gibson Studio em geral possuem pintura sólida, mas não pense que por isso a pintura é ruim: a Gibson pinta todas as suas guitarras com exatas 6 demãos de Nitrocelulose, que segundo informações de luthiers, é um tipo de tinta que permite a madeira respirar, apesar de ser uma pintura considerada sensível.

Em tese, a sonoridade proporcionada pelo corpo de uma Les Paul Studio é a mesma de uma Les Paul Standard. A diferença de preço se daria pelo acabamento, o tampo, que nas Standards é figurado, e os componentes, que nesse caso trazem também diferenças sonoras ao instrumento. No caso das linhas Tribute, a Gibson utiliza também a pintura com nitrocelulose, mas neste caso, sem o acabamento brilhante, dando um aspecto mais antigo, diminuindo o preço do instrumento.

Uma curiosidade da Gibson é que na pintura de suas guitarras é utilizada uma essência de baunilha, que deixa as guitarras com cheiro de sorvete, o que se tornou uma assinatura dos modelos Gibson (nas tribute isso não rola).

Outro tipo de tinta muito utilizado é o uretano, que vem sendo utilizado amplamente pela Fender em suas guitarras. É uma tinta que não necessita de resinagem, e é bastante durável.

Acabamento funcional

Além do que já foi explicado nesse artigo, o acabamento pode ter um aspecto funcional. Um exemplo de funcionalidade é a utilização de cera no acabamento dos braços. Embora uma pintura ou verniz seja muito dê um acabamento muito bonito ao braço de um instrumento, a cera faz com que a mão esquerda deslize com mais facilidade pela parte de trás do braço, pois é menos aderente que a tinta ou o verniz. Desse modo, guitarristas que toquem estilos mais rápidos preferem braços encerados, ou até mesmo o braço sem nenhum tipo de pintura ou cera.

O grande problema do uso de cera no braço, é que esse tipo de acabamento exige mais cuidados na manutenção do instrumento, pois o suor das mãos pode se impregnar à madeira fazendo-a escurecer:


Uma outra utilização de acabamento funcional está na pintura das cavidades eletrônicas dos instrumentos com tinta condutiva, como pode ser visto na segunda foto desse artigo. Esse tipo de pintura diminui as interferências eletromagnéticas na parte eletrônica do instrumento, evitando ruídos indesejados, e até mesmo interferências de rádio frequência (já rí muito com guitarras que sintonizam rádio AM e FM. Imagine no meio de uma missa começar a tocar um forró de duplo sentido nas caixas de som da igreja, ou um metal do Sabath \m/).

Bom, por hoje é só. Mas a notícia boa é que como essa semana é mais curta, poderei escrever mais, logo, teremos mais um artigo, falando um pouco mais sobre acabamento, e depois dessa brincadeira, vamos concluir a série falando sobre componentes de hardware e eletrônica.

Até!!!

sábado, 5 de abril de 2014

Por que uma guitarra boa é tão cara? - Parte II

Após o post Por que uma guitarra boa é tão cara? - Parte I recebi elogios, críticas, sugestões, e a quantidade de leitores me surpreendeu bastante.

Mas vamos parar de blablablá e voltar a falar do que interessa.

Braço Forte, guitarra boa

Um bom braço é um componente fundamental para uma boa guitarra. Um braço "molenga" não vai aguentar a tensão das cordas, não vai permitir que elas sejam afinadas, e vai mandar toda a vibração das cordas para o espaço. O que você perde? Se você respondeu sustain e ressonância, você  acertou.

Vamos explicar: imagine que ao invés de um braço confeccionado em madeira sólida, você tivesse em mãos uma régua de plástico. Ao esticar uma corda na régua, conforme se fosse enrolando e tencionando a corda na tarraxa, a régua iria entortar, e talvez chegaria a quebrar, dependendo do plástico. Dessa forma, a corda jamais chegaria na afinação. Isso ocorre com braços danificados, ou mesmo com braços ruins, ao afinar uma corda, outras cordas acabam desafinando, dificultando muito a afinação do instrumento, e muitas vezes impedindo que a guitarra seja afinada.

Quanto ao sustain e a ressonância, a explicação é mais simples: vamos fazer a analogia entre um tênis com um bom amortecedor e um braço de guitarra ruim. Difícil entender? O que é bom para um tênis é ruim para um braço de guitarra. PONTO. Um tênis bom tem um amortecedor macio, que consegue absorver o impacto do seus pés e diminuir assim a fadiga. Um tênis ruim é aquele que você pisa duro e fica com os pés doendo. Um braço mole, fraco, vai absorver toda a vibração das cordas, e o instrumento irá ter pouco sustain, e pouca ressonância.

Pelo exposto acima, um bom braço precisa de ser feito com madeiras resistentes, cortadas no mesmo sentido dos seus veios, para manter a firmeza e suportar a tensão das cordas.

A madeira da escala do braço é outro ponto que segundo alguns, faz diferença. Existem controvérsias nessa questão. Enquanto alguns guitarristas e luthiers afirmam que a madeira da escala faz diferença em termos sonoros, outros dizem que não faz e que não passa de lenda.

Pelo sim pelo não, explicarei. Os dois tipos mais populares de madeira utilizados na escala são o maple, e o rosewood.

De acordo com o site inglês Andertons o rosewood, ou jacarandá aqui em Terra Brasilis, é uma madeira de cor escura, e que por ser mais oleosa não precisa de um acabamento muito complexo ao ser instalada nos braços de guitarra, por esse motivo, a madeira um pouco porosa, não "reflete" tanto o som das cordas, proporcionando um timbre mais grave, menos estalado. Além disso, é interessante para quem gosta de sentir a textura da madeira na ponta dos dedos.

Já o maple, precisa de ser polido, envernizado ou encerado, se tornando uma peça lisa, com aparência menos natural, que "reflete" o som das cordas, proporcionando um timbre um pouco mais agudo e estalado. Também é interessante para quem prefira uma escala mais "lisa".

Ainda sobre madeiras, o ébano também é utilizado por muitos fabricantes, mas não se engane. Apesar do ébano ser um tipo de madeira de cor escura, o timbre é tratado como sendo mais agudo e estalado, além da escala ser mais lisa.

Aumentando a tensão

Além da madeira do braço e da escala, existe ainda um outro componente : o tensor.

O tensor é uma haste de metal que é instalada no interior do braço do instrumento,  e que possui uma ponta acessível na parte externa do braço, para que com algum tipo de chave, como uma chave allen, o braço possa ser regulado, permitindo que a curvatura do braço seja ajustada de acordo com a tensão das cordas utilizadas, e também de acordo com as variações do clima (que altera a dilatação da madeira e das cordas, e consequentemente a curvatura do braço).

No início as guitarras não possuiam esse recurso, e por este motivo em determinadas circunstâncias de variação de temperatura o instrumento começava a trastejar (as cordas encostam nos trastes ao vibrar, provocando um chiado no som). Em situações mais graves, as cordas encostavam no braço, fazendo com que fosse impossível tocar.

Nessas circunstâncias, era necessário fazer alterações drásticas: descolar o braço, efetuar cortes ou enchimentos na junção entre braço e corpo, e depois recolocar o braço. Esse procedimento envolvi refazer o acabamento do instrumento, pois uma vez descolado o braço, ocorriam danos no acabamento.

O crédito de criação do tensor no braço da guitarra é do renomado Leo Fender, que ao criar a avó da Telecaster, chamada de Esquire, estava recebendo muitas reclamações de braços empenados, além de guitarras devolvidas. Dessa forma o cara criou a Broadcaster, evolução da Esquire com um tensor no braço e dois captadores, mas isso é história para outro momento.



As imagens acima são de propagandas da Fender na década de 50, logo após a introdução dos tensores nos braços de suas guitarras, com o slogan "Nos apoiamos sobre nossa reputação". Será que uma guitarra vagaba teria essa reputação?  ;)

Abaixo, uma foto de um braço cortado e visto de lado com o tensor sendo mostrado (em azul):


E na foto abaixo podem ser vistos os tipos mais comuns de ponta utilizados para ajuste do tensor (créditos Music Diary):


Facilitando a saída do som

As guitarras e violões são descendentes diretos de instrumentos mais antigos como a cítara. Os primeiros instrumentos de corda não possuíam trastes, assim como os violinos, violoncelos e baixos (baixo clássico, ok?).

Ainda assim, existem violões e guitarras e principalmente baixos sem trastes, ou fretless, mas estes exigem um grau um pouco maior de habilidade para tocar, já que tirar som desses instrumentos é um pouco mais difícil.

Guitarra Fretless (http://adrianlikins.com/)
Os trastes foram introduzidos para facilitar a tocabilidade dos instrumentos. Hoje, as principais características dos trastes são a altura, largura, e o material utilizado.

Grande parte dos guitarristas prefere os trastes medium-jumbo, que não são os mais altos, nem os mais baixos, são trastes médios. Há quem prefira os trastes jumbo, estes, bem altos. Na imagem abaixo, alguns exemplos de trastes encontrados atualmente no mercado:


A grande vantagens de trastes mais altos é que estes facilitam a execução de bends e vibratto, além de aumentarem a sensação de "maciez" das cordas, já que quanto mais altos os trastes, menos os dedos encostam na escala.

Nas guitarras mais caras, os trastes utilizados são normalmente de boa qualidade, feitos em materiais duráveis como aço inoxidável ou criogênico (é um aço que passa por um processo de congelamente em baixíssimas temperaturas, que tornam o traste mais resistente e durável). A parte mais importante quanto aos trastes nas guitarras mais caras é a instalação dos trastes. Os trastes, são instalados cuidadosamente no braço, a após a instalação os trastes são polidos e nivelados para que não haja trastejamento e as notas saiam bem definidas.

Trastes de boa qualidade tendem a durar mais, e sofrem menor desgaste. A troca de trastes é um dos procedimentos de manutenção mais sensíveis, e exigem habilidade do luthier. Por isso, antes de fazer a substituição de trastes, procure um luthier de confiança, e com boas referências.

Não utilizar cordas enferrujadas também é algo que prolonga a vida útil dos trastes, evitando que estes enferrujem e se desgastem. E pode ter certeza: trocar os trastes é um procedimento caro e arriscado. O vídeo abaixo demonstra o procedimento de troca de trastes:


Ainda temos bastante coisa para falar, portanto, até a próxima!

quinta-feira, 27 de março de 2014

Por que uma guitarra boa é tão cara? - Parte I

Esse post com certeza será longo. Longo mesmo. Por isso eu irei dividi-lo em partes, até cansar de criar novas partes.

Sempre que um leigo vê o preço de uma guitarra BOA se assusta e acha um absurdo pagar 4, 5, 6, 10 mil Reais em um instrumento musical. Já ouvi algumas perguntas bastante inteligentes do tipo: "isso é só pela marca, né?" ou "o que é que essa guitarra tem, cordas de ouro?".

A pergunta pro si só mostra a falta de conhecimento da pessoa, que não sabe que corda é um material de consumo e não agrega em nada ao valor do instrumento ;)

Outra situação que muito ocorre é: uma pessoa compra um instrumento iludida por um vendedor mau caráter ou por um anúncio que viu numa revista e dizia: essa é a melhor guitarra, ou, melhor custo benefício. Whatever.

Vamos ao ponto: por que a guitarra BOA é CARA? Vamos explicar falando de guitarras vagabundas.

Uma boa guitarra é feita de madeira de verdade


Aí você vem e me pergunta: lá vem esse cara falar de madeira novamente... É! Venho! E falo mesmo!

Na imagem abaixo o que você vê é uma guitarra de uma marca popular, importada da China, chamada Shelter que em alguns fóruns você vê os fedelhos dizendo algo como: "um primo de um amigo meu tem uma e não perde nada para nenhuma Gibson":


A guitarra vagabunda é feita de MDF, compensado, MDP, aglomerado, e em melhores casos de madeiras baratas e ruins. No caso da guitarra acima, a dita cuja é (era, não tem conserto) de MDF.

Como pode ser visto na foto, o material do qual a guitarra é feito parece até um papelão. Fora algumas partes às quais os fabricantes ainda não inventaram uma alternativa para fugir da madeira, gambiarrar a guitarra e vender barato, todo o resto da guitarra é feito de MDF.

Infelizmente, hoje, madeira é coisa rara de se encontrar no mercado. Assim como móveis populares são feitos em MDF, as guitarras também são. E assim como móveis de MDF duram pouco, as guitarras também.

O MDF é um material que é considerado mole. É um pó de restos de madeira que é prensado misturado a um tipo de cola, e se transforma em um bloco útil para alguma coisa. Pode ser bom para fazer um tampo de mesa de centro, ou um criado mudo, mas não é bom para guitarra em nenhuma hipótese, e vamos enumerar alguns dos motivos (caso tenha mais motivos, coloque no comentário que eu vou colocar aqui e dar o crédito de quem colaborou) :
  1. MDF não é ressonante - por ser mole o MDF tende a não vibrar junto com as cordas, e por ser flexível (não é flexível em termos humanos, mas em termos de física), o som MORRE. Por isso, não importa qual é a captação, ou as ferragens, o som vai ser ruim.
  2. Não tem sustain - pelos mesmos motivos do item 1 a guitarra não vai ter sustain. Sustain e ressonância são basicamente a mesma coisa, mas são percebidos por nossos ouvidos de modos distintos. Pode notar que uma guitarra muito ressonante tem muito sustain, e vice e versa.
  3. Não segura a afinação e sofre MUITO com variações de temperatura - Pelos motivos dos itens 1 e 2 a guitarra não segura a afinação. Para se ter uma idéia, um jogo de cordas 0.10 gera uma tensão de aproximadamente 46 kgf (quilograma-força) no braço da guitarra. Não é preciso explicar muito para entender que um material que mais parece um papelão não tem cacife para aguentar o regaço.
  4. Dura pouco - Sim, isso conta. Mesmo que você pense "é só para eu aprender, depois eu pego uma melhor", isso conta. Ninguém quer pagar caro por um produto descartável. Existem guitarras vagabundas que estão durando, mas na maioria dos casos a parada acaba em 5 anos, nó máximo. Não que vá quebrar, como a da foto, mas o braço ferra, para de aguentar a tensão das cordas, daí fica impossível de se afinar, ou coisas do gênero.
Aí você me pergunta: "Então se eu quiser uma guitarra de madeira, tenho que pagar uma fortuna?"

Eu te respondo: NÃO. Você não vai ter a melhor madeira, ou nem terá a madeira utilizada da melhor maneira (falarei disso depois), mas você terá um instrumento de madeira. Existem marcas que fazem guitarras com ótimo custo-benefício. Guitarras com acabamento honesto, madeiras de verdade, e que para um guitarrista médio, o cara que não está afim de pagar caro por um instrumento, mas quer fazer um som com os amigos de vez em quando. Vou listar algumas dessas marcas abaixo:
  • Cort - de longe é uma das marcas com melhor custo-benefício do mercado. Possui guitarras muito legais como a M600;
  • Epiphone - As semi-acústicas são em geral boas guitarras. As Les Paul Standard para cima são legais também, bem como as Wilshire, Firebird e outras, mas cuidado, algumas linhas como a Les Paul Jr. são bem vagabundas;
  • Squier - Fabrica modelos de Strato e Tele de linhas como a Standard, que são bem honestas, mas cuidado algumas linhas mais baratas são bem vagabundas;
  • Condor - faz guitarras bastante honestas. Tem uma Telecaster da Condor que é um showzinho, e custa pouco mais de R$1000,00;
  • Ibanez - muitas guitarras de entrada da Ibanez são interessantes, como as GIO;
  • Washburn - também faz guitarras de entrada muito legais, com bom custo-benefício;
Mais um detalhe faz diferença no caso da madeira: a quantidade de peças de madeira utilizadas. Em tese, se um corpo é feito com uma única peça de uma determinada madeira, este será melhor que um corpo feito com duas peças da mesma madeira, mas se você quer um corpo de uma única peça, esteja disposto a pagar uma fortuna por isso. É raríssimo conseguir uma boa peça de madeira com tamanho suficiente para fazer um corpo de guitarra.

Em alguns casos específicos os fabricantes utilizam peças de dois ou mais tipos de madeira distintos para conseguir melhorias no timbre, ou apenas para dar um efeito visual bacana. A Gibson Les Paul é um instrumento que geralmente é construído com um corpo de duas peças de mogno e tampo em duas peças de maple. Além do maple ter um visual muito bonito, a "mistura" serve para equilibrar as caracteríscas sonoras do mogno.



Acima uma Gibson Les Paul Standard Premium Quilt 2014 e uma Gibson Les Paul Standard 2014 ostentando seus tampos de maple figurado (figurado por que a madeira tem esse desenho bonito pakacete que é até um tanto 3D). Alguns fabricantes utilizam apenas uma fina camada de maple para obter o mesmo efeito visual, ou pintam a madeira para dar um efeito figurado. Nesse caso o maple não é suficiente para alterar o timbre do instrumento. É bom ter cuidado ao adquirir guitarras baratas, pois o fabricante pode utilizar esse tipo de artimanha para esconder uma madeira ruim.

Uma boa guitarra é bem construída


Nada adianta ter um material FODA se o cara que vai construir o instrumento não sabe como fazê-lo. É como comida. Você dá os mesmos ingredientes para um cozinheiro foda e para mim. Aí você pede para que preparemos um prato. O cozinheiro foda vai fazer uma comida foda. Eu farei uma gororoba intragável.

Um amigo meu costuma dizer que determinadas guitarras são feitas no facão.

Lembra-se das Jennifer? Então, as Jennifer eram feitas com madeiras Brasileiras pesadas que em tese são ótimas, porém eram construídas na base do facão, sem nenhuma técnica adequada, sem nenhum cuidado com a qualidade do instrumento.

São os detalhes que fazem total diferença na construção, como a forma que é realizado o corte da madeira. Um braço, por exemplo, precisa que a madeira seja cortada paralela aos veios, pois isso é o que dará a firmeza para o braço aguentar a tensão. O encaixe entre o braço e o corpo precisam de ser cortados e polidos em um tamanho preciso para que não haja nenhuma folga na junção das partes, garantindo o sustain e ressonância. Isso serve também para outras peças encaixadas como pontes, cordais, tarraxas, entre outras, pois um corte folgado pode ser o que separa um instrumento perfeito de uma porcaria SEM CONSERTO. Isso, sem conserto. Fez um furo maior na madeira no local onde entrará a tarraxa? Não tem solução. Qualquer solução seria porca, ruim, e inadequada. É para jogar o braço fora e fazer outro do zero. Fudeu!

Por isso, as guitarras mais caras passam por um controle de qualidade extremamente rígido. Os luthiers não são apenas mais experientes e os equipamentos mais modernos, mas há um controle de qualidade muito grande em cima desses instrumentos. Quanto mais caro se paga pelo instrumento, mais manual é o processo de confecção, melhores são os materiais, e também os luthiers que o contruíram, e essa última parte é bem simples de entender: o luthier mais experiente e mais talentoso ganha mais que o luthier menos experiente, logo, esse valor é repassado para o valor do instrumento.


Na foto acima, uma Fender Select Stratocaster Exotic Maple Quilt. Bonita né? Aí você me diz uma do tipo: "é, mas por que custar U$3000,00?".

Vamos olhar mais de perto?


Observem o detalhe da forma como a escala é colocada no braço. Sugiro que abram a imagem em outra janela para verem um pouco melhor.

É a perfeição! O que falar de um instrumento como esse? É uma verdadeira obra de arte, que não se alcança sem muitos anos de prática, conhecimento da construção de instrumentos. Nem de longe.

Vejam abaixo os detalhes de outra Fender Select.


Bonita né?

E isso?


E agora isso?


É um nível tão extremo de cuidado, esmero, perfeccionismo, que o fabricante se orgulha de ter feito uma verdadeira obra de arte. O fabricante CRAVA seu próprio nome no instrumento e dá a ele uma medalha dizendo: fui eu que fiz, e é especial, é foda, é perfeito!

É isso. No próximo post vamos falar um pouco mais sobre os detalhes de um instrumento que fazem toda a diferença não só no visual do instrumento, mas no que é mais importante: o que você está ouvindo!

Abraços!