quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Gibson Les Paul - Tudo que eu preciso saber antes de comprar

Uma das guitarras mais icônicas e desejadas pela maioria dos guitarristas é a Gibson Les Paul, porém, com a grande variedade de modelos disponíveis, maioria das pessoas que almeja uma Les Paul não consegue entender as diferenças entre os modelos, criando dúvidas, mitos e o pior: escolhas erradas. Essas escolhas erradas geram preconceito em relação ao modelo e também prejuízos financeiros.

É importante ressaltar que até mesmo as linhas mais baratas da Gibson tendem a soar melhor e ter tocabilidade superior às suas filhas da Epiphone. Muitas das diferenças entre os modelos da Les Paul têm finalidade meramente estética, e essas diferenças estéticas não influem no resultado final que é o timbre, mas carregam um valor agregado na raridade dos materiais utilizados ou no trabalho para fazer aquele tipo de acabamento.

Uma Les Paul Standard é, naturalmente, melhor que uma Studio, mas não é necessariamente MUITO melhor que uma Studio. O que digo é: no Brasil, uma Studio custa nova na loja cerca de R$8000,00, enquanto uma Standard custa em torno de R$15.000,00. A Standard custa quase o dobro do preço de uma Studio, mas isso não significa que o som ou tocabilidade são o dobro da Studio - em outro artigo falarei melhor sobre isso.

Nessa post eu vou explicar detalhadamente o que difere os modelos e ajudar os futuros proprietários nessa escolha, que parece difícil, mas não é. Vamos começar a falar sobre algumas características de Les Paul, e depois falaremos dos modelos disponíveis.


Características Construtivas


Padrões de Braço


O primeiro ponto que gera dúvidas e preconceitos é a questão do braço da Gibson Les Paul. Quando a Gibson criou a Les Paul em 1952, não haviam referências de guitarras elétricas no mercado, exceto pela Fender Broadcaster (que deu origem à Telecaster). Dessa forma, as primeiras Les Paul foram construídas com um braço gordo, herança dos antigos violões de aço e guitarras semi-acústicas. Esse braço hoje é conhecido como padrão da década de 50.

Na década de 60 a Gibson alterou completamente o design da Les Paul para um modelo que hoje é conhecido como SG. Esse novo modelo possuía um braço mais fino, que não agradou ao próprio Les Paul, mas agradou ao mercado por ser mais confortável. Desse modo, esse tipo de braço passou a ser chamado de padrão da década de 60 (60's slim taper).

Já na década de 70, houve mais uma alteração nos braços das Les Paul, a Gibson adicionou uma voluta na parte traseira do braço, exatamente na junção do braço com o headstock, com finalidade de evitar a quebra do braço. Essa padrão, se tornou pouco popular e passou a não ser utilizado durante muitos anos. É um padrão muito parecido com o padrão da década de 60, porém com a existência da voluta na parte traseira.

Temos então os três padrões de braço:

  • 50, braço gordo conhecido como baseball bat (taco de baseball);
  • 60, braço mais fino;
  • 70, braço semelhante aos da década de 60, porém com a voluta na junção entre braço e headstock.


Formato do Tampo


No princípio um dos diferenciais do modelo Les Paul era o tampo arqueado (archtop), uma técnica de construção que já era dominada pelos luthiers da Gibson, herdada dos violinos. Esse diferencial não traz nenhuma alteração de timbre significativa, mas é um detalhe estético luxuoso, e que encarece o processo de construção do instrumento.

Ao criar um modelo mais barato e acessível da Les Paul, a Les Paul Jr., a Gibson utilizou um tampo plano (plaintop) que hoje é utilizado em alguns modelos com a finalidade de diminuir o custo do instrumento.

Dessa forma, temos:
  • Archtop - tampo arqueado tradicional, mais caro;
  • Plaintop - tampo plano (ou reto), mais barato;


Alívio de Peso


Devido ao corpo grosso, a Gibson Les Paul é uma guitarra naturalmente pesada. O mogno utilizado no início da fabricação Les Paul era de baixa densidade. Com o tempo esse mogno se tornou mais raro e mais caro, tornando as Les Pauls pesadas. Da mesma forma que o braço gordo incomoda a alguns guitarristas, muita gente deixava de tocar com Les Paul devido ao peso. Sendo assim a Gibson criou sistemas de alívio de peso.

O primeiro sistema de alívio de peso utilizado pela Gibson em 1982 é chamado de Nine Holes (nove furos) e é popularmente chamado de queijo suíço. Esse sistema consiste em fazer 9 buracos na parte interna do corpo da guitarra para diminuir a quantidade de madeira e consequentemente diminuir o peso. Esse sistema é o único aceito pelos puristas, que acreditam que não gera nenhuma alteração no timbre do instrumento.

O segundo sistema, utilizado à partir de 2006, consiste na criação de câmaras dentro do corpo do instrumento. Nesse sistema, chamado de Chambered é removida uma grande quantidade de madeira do corpo do instrumento, proporcionando um grande alívio de peso e aumentando a ressonância do corpo, já que a guitarra passa a ser quase uma semi-acústica. Esse sistema é odiado pelos puristas que alegam afetar demais o timbre e diminuir o sustain característico das Les Pauls. Por outro lado, há aqueles que preferem os corpos em câmaras tanto pela leveza quanto pelo som que se alega mais ressonante.

O terceiro sistema, Moderno (Modern Weight Relief), passou a ser utilizado em 2014. São utilizadas várias câmaras menores, visando a diminuição de peso mas sem gerar o feedback (microfonia) existente nos modelos Chambered.

Temos então:
  • Tradicional - alívio de peso moderado ou baixo com pouca alteração na massa do instrumento (nove furos);
  • Câmaras - alívio de peso drástico com muita alteração na massa do instrumento.
  • Moderno - alívio de peso alto com muita alteração na massa, mas de forma menos drástica que o sistema em câmara.


Modelos


Vamos falar aqui dos modelos da linha principal da Gibson. Ou seja, não vamos falar de edições especiais ou limitadas nem modelos assinatura. Vamos nos limitar aos modelos vendidos normalmente no catálogo da Gibson.

Em 2016 a Gibson resolveu separar TODA a linha de guitarras em T (Traditional Specs) e HP (High Performance). A linha HP possui alguns detalhes a mais como tarraxas com afinador automático G-FORCE em todas as guitarras, corte na parte traseira do encaixe do corpo com o braço, para facilitar o acesso às últimas casas, pestana de titânio com sistema zero nut para regulagem de altura, braço mais fino que o padrão 60, knobs e seletor de captadores de metal cromado, case de alumínio, e alguns outros detalhes que podem variar para cada modelo. Nesse post vamos falar apenas das guitarras na linha T, pois em geral as diferenças principais na linha HP já foram citadas.

Abaixo vamos falar dos modelos mais caros até os mais baratos.


Standard


A Standard é o modelo padrão da Gibson, como o próprio nome diz. Na década de 70, as Standards foram renomeadas para Deluxe, e na década de 80 voltaram a ser chamadas de Standard. No final do ano de 2006 a Gibson passou a produzir as Standard com corpo Chambered, o que causou muita polêmica no mercado, e assim, em 2008 a Gibson lançou o modelo Standard Traditional, que seria uma Standard com alívio de peso tradicional, e iremos falar disso com mais detalhes mais à diante.

As Standard possuem corpo em duas peças de Mogno de baixa densidade com alívio de peso Moderno, tampo em Flamed Maple AAA, para dar aquele visual bonito tigrado na madeira, braço fino no padrão 60, com escala em Rosewood, tarraxas Grover com Travas, ponte Tune-o-matic de alumínio, captação Burstbucker Pro (alnico 5) com capa metálica em níquel, potenciômetros com Push-Pull para defasar os captadores e dar um timbre característico de single coil (como nas Stratos e Telecasters) ou de P-90.

Outros detalhes que diferenciam:

  • O acabamento da guitarra possui "binding" ao longo do corpo e do braço. É uma listra de plástico na cor creme colada ao redor do braço e do tampo, criando uma separação visual entre o tampo e o corpo;
  • Marcação trapezoidal na escala;
  • Nome Gibson em madrepérola no headstock;
  • Escala com raio composto - raio mais curvo nas primeiras casas para facilitar os acordes, e raio mais reto nas últimas casas para facilitar os bends nos solos;
  • Ferragens cromadas;
  • Circuito eletrônico impresso (PCB) e não soldado manualmente;
  • O escudo (pickguard) vem com a guitarra, mas não vem instalado, pois muitas pessoas preferem deixar o tampo de maple figurado exposto;
  • Pestana em TekToid, material que imita osso.
  • Vêm com case de fábrica;

Traditional


O modelo Traditional surgiu após a Gibson modernizar o modelo Standard. No lançamento o modelo era chamado de Standard Traditional, passando a ser chamado apenas de Traditional. Ou seja, até 2007 a Gibson fabricou os modelos Standard seguindo os mesmos padrões de sempre, porém, após 2008, com a utilização de corpo em câmaras, push-pull e alguns outros detalhes, os puristas não ficaram contentes com as alterações realizadas pela Gibson, e a fabricante passou a fabricar as Standard nos moldes tradicionais na linha Tradicional. Assim sendo, podemos dizer as Traditional dão continuidade à linha Standard que era fabricada até 2007.

As Traditional possuem corpo em duas peças de Mogno de baixa densidade SEM alívio de peso, tampo em Flamed Maple AA, um maple menos destacado que o das Standard, braço grosso no padrão 50, porém com formato mais arredondado, escala em Rosewood, tarraxas Kluson tradicionais, ponte Tune-o-matic ABR-1 de alumínio (parafusada diretamente na madeira), captação Burstbucker 1 e 2 (Alnico II) com capa metálica em níquel, potenciômetros tradicionais e circuito soldado à mão.


Outros detalhes que diferenciam:

  • O acabamento da guitarra possui "binding" ao longo do corpo e do braço. É uma listra de plástico na cor creme colada ao redor do braço e do tampo, criando uma separação visual entre o tampo e o corpo;
  • Marcação trapezoidal na escala;
  • Nome Gibson em madrepérola no headstock;
  • Escala com raio 12 - raio mais reto ao longo de todo o braço;
  • Ferragens cromadas;
  • Circuito eletrônico soldado manualmente;
  • O escudo (pickguard) vem com a guitarra, mas não vem instalado, pois muitas pessoas preferem deixar o tampo de maple figurado exposto;
  • Pestana em Nylon, material usado nas primeiras Les Paul.
  • Vêm com case de fábrica;
Como dito no início, são guitarras com uma pegada mais roots que as standard, e a variação de preço entre os dois modelos é pequena.


Classic


A linha Classic foi introduzida em 1990 como uma reedição das Les Paul de 1960, e custavam mais caro que as Standard, porém, atualmente as Classic não seguem mais esse propósito, e se tornaram um meio termo entre as Studio e as Traditional.

As Classic possuem corpo em duas peças de Mogno de baixa densidade com alívio de peso tradicional (9 furos), tampo em Maple A, um maple simples sem nenhum padrão de figuração, braço fino no padrão 60, escala em Rosewood, tarraxas Grover com travas, ponte Tune-o-matic ABR-1 de alumínio (parafusada diretamente na madeira), captação Zebra 57 Classic (Alnico II) sem capa metálica em níquel (coloração Zebra com polos aparentes), potenciômetros tradicionais e circuito soldado à mão.


Outros detalhes que diferenciam:

  • O acabamento da guitarra possui "binding" ao longo do corpo e do braço. É uma listra de plástico na cor creme colada ao redor do braço e do tampo, criando uma separação visual entre o tampo e o corpo;
  • Marcação trapezoidal na escala;
  • Nome Gibson em madrepérola no headstock;
  • Escala com raio 12 - raio mais reto ao longo de todo o braço;
  • Ferragens cromadas;
  • Circuito eletrônico soldado manualmente;
  • O escudo (pickguard) vem instalado;
  • Pestana em Nylon, material usado nas primeiras Les Paul.
  • Knobs do tipo "Speed" ao invés dos "Hats" em formato de sino dos modelos mais caros.
  • Vêm com case de fábrica;
Pontos de destaque nesse modelo em relação às Standard são o tipo de alívio de peso que é mais barato de se fazer, o nível do maple, que tem boa qualidade sonora, mas não tem o mesmo apelo visual do maple AAA das Standard, a captação mais barata.


Studio


Em 1983 a Gibson lançou a linha Studio com o intuito de atender aos músicos de estúdio com uma guitarra com sonoridade e tocabilidade de uma Gibson Standard, mas sem alguns detalhes estéticos que encarecem a produção das Standard.

Atualmente as Studio deixaram de ser as guitarras mais básicas da Gibson, pois foram criadas linhas Faded, e Tribute.

As Studio possuem corpo em várias peças de Mogno de média densidade (geralmente 3 peças) com alívio de peso moderno, tampo em Maple A, um maple simples sem nenhum padrão de figuração, braço fino no padrão 60, escala em Rosewood, tarraxas Grover sem travas, ponte Tune-o-matic de alumínio, captação 490R/498T (Alnico II) com capa metálica em níquel, potenciômetros com Push-Pull para defasar os captadores e dar um timbre característico de single coil (como nas Stratos e Telecasters) ou de P-90 (apenas os potenciômetros de volume possuem push-pull, enquanto nas standard os potenciômetros de tom também possuem e fornecem mais variedades de timbres).


Outros detalhes que diferenciam:

  • O acabamento da guitarra não possui "binding" ao longo do corpo e do braço;
  • Pintura geralmente em cores sólidas ou pinturas que mostram menos a madeira.
  • Marcação trapezoidal na escala;
  • Nome Gibson PINTADO no headstock;
  • Escala com raio 12 - raio mais reto ao longo de todo o braço;
  • Ferragens cromadas;
  • Circuito eletrônico impresso (PCB) e não soldado manualmente;
  • O escudo (pickguard) vem instalado;
  • Pestana em TekToid, material que imita osso.
  • Knobs do tipo "Speed" ao invés dos "Hats" em formato de sino dos modelos mais caros.
  • Vêm com case de fábrica;
Repare que o mogno utilizado nesse modelo é de média densidade, o que denota um mogno "menos selecionado" que o utilizado em modelos mais caros, e pode haver mais de duas peças, enquanto em modelos mais caros somente são comercializadas as guitarras com apenas 2 peças. Outros detalhes que fazem muita diferença no valor final da guitarra são a ausência do binding, e também detalhes como o logotipo Gibson estampado ao invés daquele em madrepérola e a captação mais barata (mas de muito boa qualidade).


Tribute


A linha Tribute foi lançada em 2010 como uma versão de acabamento mais simples da linha Studio. Naquela época foram lançadas versões com captadores P-90 e versões com humbuckers, e a linha era dividida entre Tribute 50, Tribute 60, e Tribute 70. A diferença entre os modelos da linha eram o padrão do braço, que seguia o nome do modelo, e no caso das Tribute 70 os captadores utilizados eram Mini-humbuckers. Naquela época, o trussrod cover (capinha do tensor no headstock) vinha com a estampa "Studio", como isso vinha gerando confusão, hoje as guitarras vem com a estampa "Tribute".

As Tribute possuem corpo em duas ou três peças de Mogno de média densidade (geralmente 3 peças) com alívio de peso tradicional de nove furos, tampo em Maple A, um maple simples sem nenhum padrão de figuração, braço fino no padrão 60, escala em Rosewood, tarraxas Kluson sem travas, ponte Tune-o-matic de alumínio, captação 490R/T (Alnico II) com capa metálica em níquel, potenciômetros simples e circuito impresso.

Outros detalhes que diferenciam:

  • O acabamento da guitarra não possui "binding" ao longo do corpo e do braço;
  • Pintura acetinada mais simples que as dos modelos mais caros que são de nitrocelulose.
  • Marcação trapezoidal na escala;
  • Escala em rosewood pode ter qualquer coloração, enquanto nas mais cara, apenas tonalidade escura é vendida.
  • Nome Gibson PINTADO no headstock;
  • Escala com raio 12 - raio mais reto ao longo de todo o braço;
  • Ferragens cromadas;
  • Circuito eletrônico impresso (PCB) e não soldado manualmente;
  • O escudo (pickguard) vem instalado;
  • Pestana em TekToid, material que imita osso.
  • Knobs do tipo "Hat" não translúcidos.
  • Não vêm com case de fábrica, apenas com bag;
Pontos importantes a destacar nas Tribute são a pintura que é muito simples e foi feita para se desgastar com facilidade, dando impressão de ser uma guitarra surrada, consistência na tonalidade da madeira da escala, qualidade visual do maple utilizado no tampo, captação mais barata, os tipos de knobs e a ausência de um case de fábrica.

Faded


Na linha de entrada da Les Paul, temos a linha Faded, lançada em 2009 como a opção de mais baixo custo da Gibson. Assim como as Tribute, foram lançadas como Studio Faded, e vinham com "Studio" no Trussrod Cover. Hoje o trussrod cover vem sem nenhuma estampa.

As Faded possuem corpo em duas peças de Mogno de média densidade (geralmente 3 peças) com alívio de peso moderno, tampo em Maple C, o maple mais simples possível, braço fino no padrão 60, escala em Rosewood, tarraxas Kluson sem travas, ponte Tune-o-matic de alumínio, captação 490R/T (Alnico II) sem capa metálica, potenciômetros simples e circuito impresso.

Outros detalhes que diferenciam:

  • O acabamento da guitarra não possui "binding" ao longo do corpo e do braço;
  • Pintura acetinada e monocromática, mais simples que as dos modelos mais caros.
  • Marcação em bolinhas na escala;
  • Escala em rosewood pode ter qualquer coloração, enquanto nas mais cara, apenas tonalidade escura é vendida.
  • Nome Gibson PINTADO no headstock;
  • Escala com raio 12 - raio mais reto ao longo de todo o braço;
  • Ferragens cromadas;
  • Circuito eletrônico impresso (PCB) e não soldado manualmente;
  • O escudo (pickguard) vem instalado;
  • Pestana em TekToid, material que imita osso.
  • Knobs do tipo "Hat" não translúcidos.
  • Não vêm com case de fábrica, apenas com bag;
Vale a pena observar a qualidade visual do maple, que é C, visualmente ainda menos valioso que o maple das Tribute, a marcação em bolinha, que é muito mais simples e barata que a trapezoidal, captação sem capa de niquel, ausência de case e até mesmo os knobs são mais simples.

Conclusões


Mesmo nas Gibsons mais baratas as ferragens, captação, e construção dos instrumentos são de boa qualidade. As variações da linha mais cara para a mais barata em diversos aspectos se devem muito mais a detalhes visuais que de construção. Um exemplo é a ponte utilizada nas Studio ser exatamente a mesma utilizada nas Standard.

De fato, uma guitarra mais cara tem um feeling e o som de uma guitarra mais cara, mas vamos ser coerentes: você precisa de uma guitarra que custa R$10.000,00 usada ou no mercado paralelo quando você pode ter uma que custa R$3.500,00 e também será de qualidade?

Além disso, conheço pessoas que possuem 2, 3, 4, 5 guitarras que custam entre R$1.500,00 e R$3.000,00. Não é mais interessante neste caso possuir duas guitarras de R$4.000,00?

Abraços!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Cuidado com a guitarra que você compra...

Esse post não terá nenhum conteúdo escrito, mas vi esse vídeo e resolvi compartilhar para deixar mais claro o que eu disse nos posts "Por que uma guitarra boa é tão cara?".

sábado, 1 de novembro de 2014

Humbuckers Fullertonepickups - A Saga (Atualizado!!!)

Coisas nonsense existem em todo canto: no maior produtor de carne bovina do mundo o povo é aconselhado a comer ovo pois a carne ficará mais cara (?)... o povo que vai à rua pedir mudança no governo, um ano depois elege o mesmo governo...

Mas eu sou um cara que não gosta de coisas nonsense, logo, encomendar uma guitarra a um luthier, feita à mão, do jeito que eram feitas 20, 30 anos atrás, com toda a dedicação para ser um instrumento que te acompanhará durante toda a vida, e depois de tudo isso chumbar um kit de captadores de linha, fabricados por robôs que funcionam 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem nenhum sentimento, produzindo de forma ininterrupta, não fazia sentido.

Ainda bem que o Felipe e o Fabricio da Dunamiz têm uma parceria bacana com o Edu, artesão dos captadores Fullertone, e como relatado na página sobre a minha nova Les Paul, será ele o cara incumbido de captar o som de minha guitarra.

O Edu fabrica seus captadores como era feito antigamente, conforme me disse em uma conversa:
"Eu faço quase tudo no pickup humbucker: a base, os pinos. A cover eu compro, daí tiro o cromo acerto a espessura na retifica  e dou banho de níquel. As bobinas plásticas compro prontas e depois faço todo o processo de bobinamento, montagem e teste. Não compro na Stewmac, faço como era feito antigamente: compro chapa, furo dobro, ajusto, dou banho de níquel, faço o logo estampado (se houver) e etc... bem artesanal mesmo. Meu trabalho mostra que é possivel fazer como antigamente e com um custo legal."
Na parte do processo que não é manual, o Edu utiliza máquinas que ele mesmo construiu, como a máquina utilizada para enrolar a bobina, como ele mesmo disse:
"Eram 4 bobinas eu alternei fiz duas manualmente e duas de modo automatizado. Esse automatizado foi inspirado na maquina da Gibson Slug 101. No caso da minha fiz com motor de limpador de parabrisa igual à da Gibson."
Uma coisa bacana do processo é que assim como no caso de uma guitarra custom shop, num kit de captadores como esse, você escolhe cada um dos detalhes:

- Com ou sem nickel cover;
- Cor das bobinas de plástico;
- Tipo de imã;
- Tipo de fiação;
- Resistência/saída.
- Uso de parafina;
- Envelhecimento.

Isso mesmo, o Edu faz uma coisa que deixa qualquer maníaco por captadores vintage alcançar o 7º céu em 2 tempos. Ele domina um processo de envelhecimento utilizando nitrogênio líquido, capaz de deixar o captador com as mesmas características de um captador com 50 anos de idade, sem que para isso você precise de leiloar seu rim para o mercado negro.

Nos meus captadores chegamos às seguintes especificações:

- Bobinas pretas;
- Cover e níquel;
- Imãs alnico II;
- Parafina no CJ (parafinar tudo iria fechar demais o som, então parafina-se somente o CJ, pois é um ponto vulnerável a microfonia);

- Captador da ponte:
 -- fios plain enamel (padrão Gibson), para terem um som menos estridente na ponte;
 -- resistência de 8,6k;

- Captador do braço:
  -- fio plain enamel na bobina interna;
  -- fio formvar (mais grosso, padrão Fender) na bobina próxima ao braço, para dar um timbre mais agudo e equilibrar a tonalidade do captador do braço em relação ao captador da ponte;
  -- resistência de 7,6k;

A única coisa que sobrou agora é a minha ansiedade... Abaixo, seguem algumas fotos (gentilmente cedidas pelo Edu) do processo de construção dos captadores da minha Les Paul.


Chapa da base do captador


Chapa cortada e furada.

Detalhe da chapa de furada e ajustada


Slug sendo usinado no torno
Chapas após banho de níquel, ao lado dos slugs

Bobina de plain ename (fios mais finos padrão Gibson)

Bobina de formvar (fio mais grosso padrão Fender)
Bobinas enroladas já com as fitas protetoras
Fitas sendo colocadas no baseplate
Humbucker montado sem Nickel Cover
Fios já organizados
Nickel cover colocado
Finalizado e pronto para o combate!
Para arrematar, o vídeo de uma Dunamiz com os captadores Fullertone (infelizmente não consegui compartilhar o vídeo de uma Les Paul, mas colocarei o link abaixo):





segunda-feira, 26 de maio de 2014

Por que uma guitarra boa é tão cara? - Parte V

O blog ficou abandonado por quase ou mais de 1 mês, e eu enrolando para finalizar a série "Por que uma guitarra boa é tão cara?".

Ocorre que entrei de férias e tinha planejado diversas coisas para o período de férias, inclusive, escrever, mas como nas férias a preguiça impera, o blog ficou de lado. Mas cá tô eu novamente.

Hoje, vamos falar da última parte sobre o que faz uma guitarra ser tão cara, e para maioria dos leigos, a mais óbvia: os componentes eletrônicos e o hardware.

Depois de todo o esmero na seleção das madeiras, construção e acabamento você não vai colocar tarraxas e captadores vagabundos, não é mesmo? Seria como você ter uma Ferrari com motor de Fusca. Fazendo a mesma analogia, um Fusca com motor de Ferrari também não daria muito certo, não é mesmo? Provável que o fusquete nem mesmo aguente a potência do motor de uma Ferrari.

Hardware (ferragens)


Eu lembro de quando um conhecido meu comprou a então recém lançada e badaladíssima 0 (leia o número). A guitarra era vendida por um fabricante como sendo o modelo de um guitarrista conhecido do Brasil, que usava uma outra guitarra, que não era nem ao menos parecida com a 0.

Enfim. Era uma guitarra com um custo baixo pelo que oferecia, e com o marketing da época, foi muito vendida para garotos que naquela época estavam, como eu, começando a tocar o instrumento, e achávamos que a guitarra era o mais importante. *Obs: a guitarra era feia, de um extremo mau gosto, e existia um outro modelo da mesma fabricante, chamada Chrome, que era muito superior em todos os aspectos e era mais barata.

A tendência de um novato em qualquer área fazer besteira é muito maior que a de alguém experiente. Por isso mesmo, quando foi trocar as cordas da guitarra pela primeira vez, apertou as travas da pestana da floyd rose (licenceada, como era uma guitarra barata, não era A Floyd Rose, nem uma de marca grande como Gotoh ou Schaller) muito mais do que deveria.

Não foi o problema ter apertado demais, o problema foi quando preciso de soltar novamente as cordas: PIMBA. A cabeça o parafuso Allen roletou, espanou. Não foi possível tirar o parafuso para trocar a corda. A guitarra que tinha sido comprada em uma loja havia menos de uma semana, ainda estava na garantia e foi trocada.

Ocorre que fabricantes de instrumentos baratos utilizam ferragens feitas com ligas metálicas baratas. Assim, os parafusos e as próprias peças costumam ter um desgaste maior, e muitas vezes anormal, como no caso relatado. Algumas peças metálicas acabam enferrujando com mais facilidade.

Apenas uma explicação técnica sobre essa última parte: dois metais distintos quando estão em contato acabam provocando a oxidação um do outro. Ou seja, as cordas fazem a ponte enferrujar e a ponte faz as cordas enferrujarem. Por esse mesmo motivo deve-se evitar tocar com cordas enferrujadas, pois estas desgastam os trastes e ponte com maior velocidade.

Em guitarras mais caras, os fabricantes utilizam ligas metálicas que possuem maior resistência física, além de serem quimicamente adequadas para que durem mais tempo sem oxidar, e evitem a oxidação das cordas.

No caso de pontes fixas, há menos problemas nas pontes de qualidade mais baixa, mas nas flutuantes os problemas crescem a níveis absurdos. Não é apenas uma questão de durabilidade do material, mas também o quanto aquele conjunto vai prejudicar o som do instrumento. E isso é bastante influenciado pela forma como a ponte é construída. Existe um post bem legal AQUI falando sobre isso. Nesse post não cabe entrar em mais detalhes senão ficará longo demais. Por isso recomendo que leiam o link.

Outra parte crucial do hardware são as tarraxas. Imagine o seguinte: se as cordas de uma guitarra afinada geram em média 47kgf de tensão no braço, dividindo essa tensão igualmente entre todas as cordas teríamos 7,84 kgf de tensão em cada corda, e consequentemente em cada tarraxa. Ops! Aí vem um detalhe importante: você lembra aquela aula de física que você dormiu ou ficou conversando com seu colega do lado na qual falava sobre a lei da alavanca? Não né, afinal, se você dormiu como lembrará? Então vamos explicar de forma bem imbecil:

"Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio que eu movo o mundo" (Arquimedes)

Imagine uma gangorra que tem duas crianças com o mesmo peso em cada um dos lados. Se você for numa das pontas da gangorra e tentar levantar ou abaixar será moleza, não é mesmo? Afinal, teremos um contra-peso que vai fazer aquilo ser banal. Agora, imagine que você tenta fazer a mesma coisa empurrando ou abaixando um dos lados porém fazendo a pressão sobre uma área próxima ao ponto de apoio da gangorra a força necessária será muito superior. Muito superior.

Isso se deve ao fato de que a força aplicada na ponta da gangorra será multiplicada pela extensão do braço da gangorra até o ponto de apoio. Por isso mesmo, quando se aplica essa força mais próxima ao centro, o peso se torna muito maior, já que do outro lado haverá uma força maior sendo exercida, e do seu lado a força será minimizada. Entendeu? Então olhe a figura abaixo que você vai entender:


Pelo mesmo princípio físico, as tarraxas e a ponte vão aguentar uma força muito maior, como pode ser visto na imagem abaixo:


É por esse mesmo motivo que para fazer uma pestana ou um trinado na primeira casa é muito mais duro que na 12ª por exemplo. (se quiser ler mais http://pt.wikipedia.org/wiki/Alavanca)

Voltando então ao assunto, a força que as cordas exercem em cada uma das cordas é muito maior que elas exercem em conjunto no braço, ou seja, tarraxas de boa qualidade vão suportar a tensão das cordas além dos bends e alavancadas do guitarrista e desafinarão muito menos.

Existem ainda outros detalhes de peças de hardware que influem no preço de uma guitarra, como por exemplo o uso de um Straplock (um esquema que prende a correia na guitarra de forma que dificulta que essa correia se desprenda da guitarra e deixe ela cair), roller nuts (pestanas que permitem as cordas deslizarem quase sem atrito, evitando que as cordas desafinem).

Eletrônica

Antes de entrar na pedaleira ou no amplificador, o som da sua guitarra será "lido" pelos captadores, passará pelos potenciômetros, capacitores, e sairá pelo jack da sua guitarra. Então vamos pela ordem do circuito:

1 - Captadores baratos são feitos sem controle de qualidade, e por isso mesmo não se pode "prever" as características sonoras desses captadores de forma muito precisa. Pode ser que você compre uma guitarra barata que possui captadores com um som interessante, mas no geral, a tendência é que não sejam bons. Os captadores mais baratos são normalmente do tipo cerâmico, que são captadores que possuem um imã, daquelas barrinhas cor de grafite, debaixo da capinha. Ocorre que a captação de guitarras mais baratas acaba gerando mais ruído que captações mais caras, além de microfonias e até mesmo captação de sinal de rádio (sim, acontece).

Captadores mais caros são geralmente do tipo alnico (alumínio - níquel - cobalto). São captadores que possuem magnetos separados e uma bobina de cobre em volta desses magnetos. Nesses captadores diversos fatores são variáveis: bitola do fio da bobina, tipo de magneto e nível de magnetização, quantidade de voltas da bobina, utilização de parafina e etc. Os captadores mais caros dos mais caros são normalmente feitos à mão, e a bobina de cobre é enrolada cuidadosamente. Além disso, os magnetos são armazenados em separado para que não sejam desmagnetizados e nem super magnetizados.

As Fender Custom Shop, que são AQUELAS guitarras da Fender possuem captadores que são feitos pelas mesmas pessoas há 40 anos, isso tudo com a finalidade de manter o mesmo timbre que aqueles captadores sempre tiveram.

2 - Fios são sempre fios, e com toda a certeza o componente mais barato na eletrônica do instrumento, mas esses precisam de ser soldados cuidadosamente para que não haja perda de sinal, solda fria, ruídos indesejáveis e etc. E existem sim fios de maior qualidade que outros. Além disso, ruídos gerados por indutância podem ser evitados pelo simples posicionamento adequado dos fios no circuito.

Alguns fabricantes já estão adotando circuitos impressos ao invés de fios de cobre para fabricação de circuitos. Embora haja muita gente que torça o nariz dizendo que isso visa apenas a redução dos custos para os fabricantes, tecnicamente não se pode afirmar que os circuitos impressos sejam prejudiciais para o instrumento, já que erros de soldagem deixam de existir. Além disso, algumas vantagens foram criadas com a adoção de circuitos impressos. Já é possível devido a esses circuitos efetuar a troca de captadores de uma guitarra sem a necessidade de utilizar solda, já que existem captadores que já vem com os conectores adequados para serem simplesmente plugados nesses circuitos.

3 - Potenciômetros e chaves - os potenciômetros e chaves de boa qualidade duram mais. Com o tempo um potenciômetro ou uma chave podem oxidar internamente, e por serem peças mecânicas, existem desgastes que podem ocorrer com a utilização.

Chaves e potenciômetros mais baratos tendem a se desgastar mais rápidamente, além disso podem apresentar certas inconsistências na saída, ou seja, se um potenciômetro logarítmico de boa qualidade é vendido como sendo de 500k, a saída desse potenciômetro possuirá uma variação mínima. Já um potenciômetro de baixa qualidade poderá possuir valores de saída completamente distintos. Além disso, um potenciômetro vendido como logarítmico (ideal para volume) pode ser do tipo linear, que já não é ideal para esse propósito.

Existem também os problemas mecânicos, como por exemplo, uma chave pode ser mais dura em uma determinada região, ou produzir algum ruído não desejado durante a utilização.

Agora, junte todas as possibilidades acima num circuito mal feito. Bem, numa guitarra cara existe controle de qualidade, e dificilmente você terá algum problema com o circuito, que além de ser construído como muito mais cuidado e utilizando componentes de primeira, passará por testes para avaliar o funcionamento adequado desse circuito.

4 - Blindagem magnética - a última parte a se falar sobre eletrônica é referente à blindagem magnética. A blindagem é uma técnica na qual se utiliza uma tinta condutiva ou algum material metálico para blindar as cavidades eletrônicas da guitarra contra interferências eletromagnéticas externas. Isso evita que motores, transformadores, transmissores de rádio, e outros equipamentos gerem ruído no instrumento. A idéia é criar uma "gaiola de faraday" em volta do circuito e assim nenhuma intereferência eletromagnética entra e nem sai da cavidade.

Para fechar a série

Depois de ler tudo o que eu escrevi você pode vir a pensar: "minha guitarra é um lixo", ou, "nunca poderei ter uma boa guitarra". Esqueça seu pensamento negativo e vamos pensar no seguinte: quando comecei a tocar as marcas nacionais que existiam estavam engatinhando, e as antigas não sabiam (e até hoje não sabem) fazer guitarras. Para se ter uma guitarra de qualidade era necessário comprar em uma loja que revendia de algum importador oficial, cobrando os olhos da cara.

Hoje as coisas estão muito, mas muito mais fáceis. Com a Internet ficou mais fácil encontrar instrumentos usados, ou importadores que vendam mais barato. Se isso ainda não for uma opção válida para você, hoje existem diversos luthiers que produzem bons instrumentos no Brasil e com um preço bastante justo. Existem também fabricantes nacionais de peças como captadores.

Eu criei uma página aqui no blog com alguns fabricantes nacionais de equipamentos para facilitar a sua vida. Ou seja, não precisa de cortar os pulsos por você não poder comprar uma Fender Custom shop. Você pode encontrar um luthier que vai fazer uma guitarra excelente por um preço equivalente ao de uma guitarra mediana que você encontra no mercado.

É bom salientar que antes de fechar alguma coisa com um luthier você deve procurar referências sobre o trabalho dele, e ter consciência de que a revenda para instrumentos de luthier não é fácil. Portanto, se você tem GAS, evite. Mas se você não tem, existem algumas vantagens em mandar fazer um instrumento: você poderá escolher cada peça do instrumento, podendo adequar cada detalhe à sua vontade ou ao orçamento disponível.

Espero que tenha sido útil. Até daqui a uns dias.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Por que uma guitarra boa é tão cara? - Parte IV

Parte III

Aaaaaaaaaaaaahhhh a beleza das curvas, das formas, das cores... A nuance do corpo.. A leveza... A suavidade... As formas marcadas e definidas do corpo.... de uma guitarra!!!

Enfim, vamos voltar a falar do acabamento.

Como estávamos falando antes, existem detalhes e detalhes. Coisas que podem tornar o instrumento algo único. Pode ser algo funcional ou apenas um detalhezinho, um frufru. E é falando sobre o frufru que vamos abrir o post de hoje: detalhes únicos.

Detalhes Únicos


Quando Leo Fender lançou sua primeira guitarra de corpo sólido, a Broadcaster (avó da telecaster), a Gibson, que até então só fabricava violões e guitarras semi-acústicas começou a perder mercado, e logo precisou de tomar alguma atitude para reverter a situação.

A Gibson lançou seu consagrado modelo Les Paul. Uma das características principais da Gibson Les Paul, e que a diferenciava da Fender Broadcaster era seu acabamento. Os luthiers da Gibson dominavam a técnica de construção de tampos arqueados, assim como tampos de violino, e essa técnica, que era pelos motivos expostos uma assinatura da Gibson, também foi utilizada no modelo Les Paul.

O grande lance é que esse trabalho de arquear o tampo é manual, custoso, e tem que ser muito bem feito, senão fica um lixo completo: os captadores e a ponte não vão se encaixar no corpo corretamente, pode ficar desnivelado e etc. Exatamente por esse motivo existem modelos de Les Paul "Plain Top", pois isso diminui os custos de fabricação da criança.

Outro detalhe da Les Paul nas séries acima da Studio, é o Binding (frisos), que é aquela linha branca que existe na borda do corpo e do braço da Les Paul. Nas Gibson o binding é feito com um material plástico que é colado ao corpo e ao braço. Apenas um esmero estético. Nas Epiphone, que é uma marca de propriedade da Gibson que faz instrumentos menos caros, o binding é uma pintura mesmo. Em termos de timbre e etc, isso não gera nenhuma diferença, mas imagine o trabalho que dá pra fazer o binding. IMAGINA O ESCAMBAU!!! No final do post tem uns vídeos mostrando como é feito o tampo arqueado e o binding.

O binding da Gibson inclusive tem gerado polêmica no modelo 2014. O que acontece é que o binding nos braços das Gibson possuiam uma parte que cobria as pontas dos trastes, uma coisa que inclusive as falsificações não copiavam. Em 2014 a Gibson passou a não colocar o binding encobrindo as pontas dos trastes, e assim, muitas pessoas ficaram aborrecidas, alegando que isso vai facilitar a falsificação de guitarras. Quem estiver afim de entender um pouco melhor essa parte do Binding, e algumas coisas mais, aqui segue o link de um EXCELENTE post do blog Louco Por Guitara.

Como prometido, aqui estão os vídeos que eu falei....

O vídeo abaixo mostra uma boa parte do processo de construção do corpo de uma Les Paul:


No vídeo abaixo a demonstração de como é feito o binding, e alguns detalhes do braço (de guitarras mais caras):


Como deu para perceber, dá um trabalho do cão fazer essa porra isso. Então imagine o seguinte: um luthier desses deve ganhar bem por baixo, uns U$20,00 por hora. Quantas horas ele leva para fazer isso tudo?

No post passado eu prometi um monte de coisas, inclusive que esse saíria na semana passada, mas eu acabei sendo pego pelo ritmo do feriadão e não terminei a tempo. Prometi também que a parte de componentes viria nesse mesmo post, mas ficou muito extenso, então, vou deixar as peças para o próximo que poderemos falar de mais alguns detalhes.

Abraços!!!



terça-feira, 15 de abril de 2014

Por que uma guitarra boa é tão cara? - Parte III

Parte I
Parte II

Existem diversas formas de dar um acabamento à uma guitarra, baixo ou violão. Algumas formas são bastante simples (e podem ser bonitas mesmo assim). Outras formas de acabamento podem ser funcionais, ou elevar um instrumento ao status de obra de arte devido à sua exclusividade.

O acabamento do corpo de um instrumento pode variar entre acabamentos que deixam a madeira totalmente exposta, dando um visual mais natural ao instrumento, até pinturas sólidas e trabalhos de escultura e marchetaria.

Esse assunto é bastante extenso, e talvez não consiga cobrir todos os aspectos que desejo em apenas um post, logo...

Acabamento Natural

Acabamentos naturais são mais comuns em violões, violinos, baixo elétrico e etc. Nesse tipo de acabamento, normalmente a madeira é encerada ou envernizada. Um detalhe importante no acabamento natural, é que nesse tipo de acabamento é difícil esconder imperfeições No caso da cera, o acabamento é menos brilhante e tem um feeling mais natural até mesmo que o verniz.

Esse tipo de acabamento é feito com óleos e ceras como o Birchwood Casey Tru-Oil. É um acabamento muitíssimo utilizado em baixos com braço inteiriço e acabamento natural.



Na imagem acima, o detalhe de um baixo com acabamento natural em verniz da Mayones Custom Shop. Como pode ser visto na imagem, todos os detalhes da madeira, bem como todas as junções das peças ficam expostos nesse tipo de acabamento. Apesar de ser o tipo de acabamento mais simples e barato que se pode ter (principalmente no caso da cera), não dá para esconder um material ruim ou mal trabalhado com esse tipo de acabamento.

Bursts com Transparência

Um tipo de acabamento clássico é o acabamento do tipo Burst, como o famoso e popular sunburst. Nesse tipo de acabamento, costuma-se deixar a parte central do corpo com uma coloração translúcida, e as bordas com uma cor mais escura, que pode ser sólida ou também translúcida.

Esse tipo de acabamento, por ser um intermediário entre o natural e o sólido, também expõe muitos detalhes da madeira. Nos casos em que as bordas e partes traseiras são pintadas em cores sólidas, apenas o centro fica exposto, como na imagem abaixo:

Corpo de Fender Stratocaster Sunburst - Detalhe das cavidades em tinta condutiva

Pintura Sólida

A pintura sólida é a favorita dos fabricantes de instrumentos baratos, pois é uma das mais baratas (é tão barata quanto verniz, mas não tanto quanto a cera), mas possibilita esconder defeitos das madeiras e também falhas construtivas.

Além da camada de pintura, em si, alguns fabricantes utilizam resinas para deixar a madeira mais lisa, e também para facilitar a aderência da tinta ao corpo do instrumento. Segundo alguns luthiers, esse tipo de resinagem prejudica um pouco a sonoridade do instrumento, além de impedir que a madeira "respire". Dessa forma, uma guitarra resinada sempre terá o mesmo som, pois a madeira não terá suas propriedades alteradas com o passar do tempo, já que a umidade estará aprisionada sob a pintura.

Uma pintura sólida não significa que o instrumento é ruim, é apenas uma pintura mais simples e mais barata. A Gibson, de longa data (início dos anos 80), utiliza a pintura sólida em guitarras com tampo de maple padrão, não-figurado, que não seriam muito beneficiados com um acabamento translúcido ou natural. As Gibson Studio em geral possuem pintura sólida, mas não pense que por isso a pintura é ruim: a Gibson pinta todas as suas guitarras com exatas 6 demãos de Nitrocelulose, que segundo informações de luthiers, é um tipo de tinta que permite a madeira respirar, apesar de ser uma pintura considerada sensível.

Em tese, a sonoridade proporcionada pelo corpo de uma Les Paul Studio é a mesma de uma Les Paul Standard. A diferença de preço se daria pelo acabamento, o tampo, que nas Standards é figurado, e os componentes, que nesse caso trazem também diferenças sonoras ao instrumento. No caso das linhas Tribute, a Gibson utiliza também a pintura com nitrocelulose, mas neste caso, sem o acabamento brilhante, dando um aspecto mais antigo, diminuindo o preço do instrumento.

Uma curiosidade da Gibson é que na pintura de suas guitarras é utilizada uma essência de baunilha, que deixa as guitarras com cheiro de sorvete, o que se tornou uma assinatura dos modelos Gibson (nas tribute isso não rola).

Outro tipo de tinta muito utilizado é o uretano, que vem sendo utilizado amplamente pela Fender em suas guitarras. É uma tinta que não necessita de resinagem, e é bastante durável.

Acabamento funcional

Além do que já foi explicado nesse artigo, o acabamento pode ter um aspecto funcional. Um exemplo de funcionalidade é a utilização de cera no acabamento dos braços. Embora uma pintura ou verniz seja muito dê um acabamento muito bonito ao braço de um instrumento, a cera faz com que a mão esquerda deslize com mais facilidade pela parte de trás do braço, pois é menos aderente que a tinta ou o verniz. Desse modo, guitarristas que toquem estilos mais rápidos preferem braços encerados, ou até mesmo o braço sem nenhum tipo de pintura ou cera.

O grande problema do uso de cera no braço, é que esse tipo de acabamento exige mais cuidados na manutenção do instrumento, pois o suor das mãos pode se impregnar à madeira fazendo-a escurecer:


Uma outra utilização de acabamento funcional está na pintura das cavidades eletrônicas dos instrumentos com tinta condutiva, como pode ser visto na segunda foto desse artigo. Esse tipo de pintura diminui as interferências eletromagnéticas na parte eletrônica do instrumento, evitando ruídos indesejados, e até mesmo interferências de rádio frequência (já rí muito com guitarras que sintonizam rádio AM e FM. Imagine no meio de uma missa começar a tocar um forró de duplo sentido nas caixas de som da igreja, ou um metal do Sabath \m/).

Bom, por hoje é só. Mas a notícia boa é que como essa semana é mais curta, poderei escrever mais, logo, teremos mais um artigo, falando um pouco mais sobre acabamento, e depois dessa brincadeira, vamos concluir a série falando sobre componentes de hardware e eletrônica.

Até!!!